domingo, 25 de dezembro de 2011
Medo de grávidas
Quando eu era uma não grávida eu morria de medo de grávidas e bebês. Nunca sabia o que dizer, o que conversar; se a grávida ia preferir repetir mais uma vez sobre o ultrassom, o peso da barriga os vômitos, ou se preferia falar do último filme do Almodóvar e tava nem aí pra ficar desfiando rosários sobre a gravidez.
Tinha medo de falar alguma merda e tomar esporro. Tinha medo de pegar o bebê de alguém e automaticamente a criança começar a ter uma convulsão, um tremilique qualquer e eu não saber o que fazer.
(Um amigo meu tava contando que leu não sei onde que e linha negra, os bicos dos peitos que escurecem, as unhas que crescem rapidamente, tudo isso é mesmo para deixar a mulher com uma aparência mais agressiva e assustadora e proteger o bebê, já que todo mundo andava nu nas eras pré civilizatórias.)
Curiosamente, começaram a me chamar de "fio desencapado". Aparentemente eu virei essa grávida que eu mesma tinha medo. Não tenho papas na língua. Falo merrrrrrmo. Acho que eu nunca briguei com tantas pessoas na minha vida e arranjei tanta confusão. A última foi mudar o esquema de volta do Natal pois não queria entrar num carro que o cinto de segurança não tava funcionando. Antes eu entrava e ainda cochilava. E se fossem só questões de segurança física... não tô deixando barato nem opiniões sobre política internacional, futebol, sustentabilidade, variedades, cultura, ciências humanas, jogo do bicho. Não que eu não desse opinião sobre tudo antes, mas agora parece que existem coisas fundamentais que precisam ser ditas. :-)
Talvez os hormônios te treinem para todas as brigas que estão por vir para defender o filhote, que essa memória genética venha das cavernas, de quando você preciasava defender os bebês dos piolhos, dos tigres, dos mamutes, dos outros seres humanos, e com a evolução acabamos achando por bem defender um mundo de uma certa maneira, a maneira que achamos correta, aquele mundo que desejamos que o filho viva.
Vai ver é por isso o medo de grávidas. O mesmo medo que temos daquelas pessoas esquisitas que teimam em acreditar que o mundo pode ser outro, o medo que temos daquelas pessoas que inventam o outro mundo quando não podem mudar o que lhes cabe. Medo de gente marginal, essa gente que é capaz de qualquer coisa, sabe?
E, quem diria, eu que fugia de grávidas, agora sou dessas. Dessa gente maluca que faz gente. E quem faz gente pode fazer qualquer coisa.
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