sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Feminismo e Gravidez


Toda Mulher É Meio Leila Diniz
Ficar grávida é ter que tomar muitas decisões a respeito do próprio corpo. Caso seja uma gravidez não desejada, a decisão de levá-la ou não adiante, e arcar com as consequências dessa decisão. Decidir até que ponto se aceita intervenções médicas invasivas como a amniocentese, decidir o tipo de parto, de amamentação. E depois que o bebê nasce arcamos com decisões a respeito do corpo do outro, e como mãe essa decisão é (ou deveria ser) soberana: desde furar as orelhas de sua filhotinha até seguir ou não o protocolo de vacinação oferecida pelos pediatras.

A mulher tem que estar muito fortalecida, segura e bem informada para tomar essas decisões com tranquilidade. Por que olha, cada um vai dizer uma coisa e todo mundo vai te dar um monte de opiniões conflitantes. Então é você que tem que querer.

Quando pensava em como levaria a gravidez, não tinha a mais puta idéia do que aconteceria, achava que questões relativas ao feminismo iam ter muito mais a ver com a criação que você dá pra criança depois que ela é maior do que em questões relativas ao processo de gerar. Posso dizer que isso foi uma baita ingenuidade. Tolinha.

Já me torceram o nariz quando souberam que eu não era casada. E olha que eu vivo em um relacionamento estável com o pai da criança, que é meu namorado, marido, companheiro e tudo mais. Depende do nosso humor na hora. Já torceram o nariz para um nome relativamente unissex que eu escolhi, pois isso pode "confundir a criança" (me pergunto até agora a que tipo de confusão essa mente pervertida se refere). Nem comento sobre puta trabalho que dá você decidir por um tipo de parto que foge do parto convencional de convênio médico, quase uma certeza de cesárea com um plantonista mal humorado com essa mulé parindo (assunto para outro post) ou sobre mulheres que a pretexto de serem defensoras de um parto natural julgam e condenam outras mulheres sem dó nem piedade (assunto para outro post também).

Todas essas questões são questões muito pertinentes ao (meu) feminismo, que se descortinam agora pra mim e se impõe como realidade, pois feminismo não é só a luta pela igualdade num mundo desigual, é sobre as mulheres e o poder de escolher o que é melhor para si mesmas, suas vidas e seus corpos. E existe transformação corporal mais radical e consequências sociais e de vida mais dramáticas do que as proporcionadas por uma gravidez?

Acho curioso que sejamos vistas pelo senso comum como um bando de mulheres que odeiam outras mulheres, que não suportam a idéia de ter filhos e que têm como único objetivo a eliminação dos homens do planeta. Em tempos de internet é mole dar um googlezinho, achar livro da Simone de Beauvoir em pdf, um blogzinho tipo esse aqui, um artigo acadêmico, um textinho de Feminism for Dummies e se informar, descobrir que poder de escolha é a luta mais bonita do feminismo, e escolha é também é a chave para viver com tranquilidade todo o processo gestacional.

Um comentário: