quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Gorda

Por mais que você saiba que está grávida, eu acho essa fase do início bem complicada para a autoestima. Ninguém sabe que você está grávida, você parece uma chubzinha fora de forma, principalmente quando está de biquini e calcinha. (tô quase abolindo, pq pelada me sinto bem melhor do que com as carcinha me apertando as carrrne).

Hoje eu fui à praia e o biquni que cabia perfeitamente até uma semana atrás começou a entrar na bunda e não cobrir a virilha direito. Ainda bem que como é dia de semana a praia estava vazia e eu estava entre amigos e relaxei. O problema é que isso está acontecendo com todas as minhas calcinhas.

Eu nunca fui a hippie louca da bata, mas tô achando que não vai ter jeito. Vou comprar um brinco de pena e fingir que fumo maconha até minha barriga de verdade aparecer. Sei lá, usar uma sandália de couro. 

Pois é assim, seu útero, abaixo do osso do púbis e do umbigo tá duro e crescendo. Aquela pancinha debaixo do umbigo se reacomodou INTEIRA ao redor do umbigo, fazendo de você uma barrigudinha daquelas que tomam muito chope ou não resistem a um muffin. Ninguém acha que isso é gravidez.

Lógico que na maioria das vezes eu não tô nem aí. A pança só significa que filhote está bem, crescendo, saudável. Mas às vezes olho no espelho e acho inevitável não me assustar que meu status gradualmente está mudando de fêmea atraente potencial reprodutora para fêmea já fecundada e de potencial sedutor nulo. E isso não tem nada a ver com estar gorda, quem já era mais cheinha ou bem magra também deve sentir mudanças bem parecidas. Na verdade a principal coisa é que essa mudança física é muito rápida, e é complexo se adaptar assim, de chofre.

Explico agora o potencial sedutor nulo: gravidez não impede (ou não deveria impedir) ninguém de transar. Ao menos não impediu a mim. Mas gente, vocês acham mesmo que é fácil, mesmo pra uma mulher bem resolvida e cheia de auto estima ganhar 2 kg por mês (no barato) durante nove meses? Numa sociedade que estampa pré púberes anoréxicas em todo canto, como símbolo virginal intocado de desejo e aspiração (e por isso também estéril), a grávida é quase uma obcenidade.

Conto nos dedos os homens e mulheres que falam sinceramente: a mulher grávida é bonita, seus contornos são sensuais. Dedos de uma mão só diga-se de passagem. Pata talvez seja o animal com o qual mais seremos comparadas depois do evento gravídico. Esquece a gata, gente. Só daqui um ano e meio, se a natureza for generosa. Mas isso é quando a gente fala do olhar do outro.
No vídeo acima, Beyoncé, aos 4 meses de gravidez se apresentando no VMA

Se a gente for menos apegada aos padrões estéticos e de consumo que a sociedade nos impõe e prestarmos mais atenção nas sensações da gravidez, vamos perceber um movimento completamente diferente, quase uma contradição: quanto mais a gravidez avança mas eu me sinto gostosa. poderosa, sinistra. Eu sempre reparei essa empáfia na cara das grávidas, e nunca entendi exatamente o que era. Pois é. Não é empáfia não. É poder.

Tudo na gravidez grita para que façamos isso: para que olhemos mais para dentro do que para fora, mas o mundo chama e os velhos hábitos estão enraizados e a gente acaba resistindo a esse apelo da gravidez de esquecer o que está no entorno e se tornar mais autocentrada. Desvendar a verdade do que estamos sentindo. Parece que esse é um dos ensinamentos, e quando o aceitarmos teremos nós todas, para sempre, um ventilador metafórico pra balançar nosso cabelo cada vez que colocarmos os pés no palco. Tipo a Beyoncé. ;)

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Só a nível de curiosidade: é saudável engordar de 10 a 15kg na gravidez. Mulheres magrinhas geralmente variam para mais (o corpo precisa de mais aporte calórico),  e mulheres mais cheinhas podem variar menos. Mas o importante é se alimentar bem e não fazer dieta de emagrecimento. Sei que parece óbvio, mas tem gente que realmente acha que jejum durante a gravidez é algo aceitável para saúde. Não, não é.


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